O recente lançamento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) pelo PNUD/ONU gerou
otimismo e decepção na sociedade. Otimismo, pelo acelerado progresso em termos de redução da
pobreza no país. Decepção, porque a expectativa do Brasil e do governo federal era que o país
estivesse mais bem posicionado no ranking mundial.
A mídia trouxe em evidência os diferentes impactos do estudo, o PNUD procurou justificar a
metodologia utilizada e o governo federal explicitou sua insatisfação por meio da entrevista do
Ministro da Educação. Percebo que todos têm um pouco de razão. Sem entrar em outras
controvérsias, não é possível estabelecer uma comparação internacional sem uma base de dados
e a necessidade de um ano de referência comum aos países. O mesmo foi feito com os Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que foram lançados em 2000 para o cumprimento de
diversas metas até 2015, no caso, tendo com ano de referência para o alcance das metas os dados
existentes em 1990. No atual estudo do IDH o ano de referência foi 2009, portanto, no caso
brasileiro excluiu diversos avanços sociais, especialmente na educação. Enfim, esta questão da
base de dados e da metodologia é sempre polêmica, seja para os governos, seja para as empresas
e principalmente para as pessoas, porque ainda temos uma enorme dificuldade em aceitar
avaliação e atribuição de notas ou valores.
Quero abordar outro aspecto pouco ou nada explorado na mídia e entre os atores envolvidos. O
Brasil apareceu em 85º lugar entre 187 países, o que não agradou quase ninguém por diversos
motivos justos. Fica evidente que se somos a 8ª economia no mundo há um enorme abismo em
termos sociais. Portanto, acho normal que todas as pessoas sérias do país fiquem insatisfeitas, o
contrário seria traumático. A pergunta é: quem é o Brasil? Normalmente transferíamos a culpa
somente ao governo federal que, em grande medida tem suas responsabilidades pelo
desempenho do país. Mas será que é só dele a responsabilidade deste quadro dramático?
Um dos dados que mais pesou no estudo do IDH e ainda pesa em diversas outras comparações é
sobre a educação básica. Há quase 6 milhões de crianças de zero a seis anos que estão sem
creches, idade fundamental para o aprendizado. De quem é a responsabilidade principal da
educação básica e fundamental? Não é do governo federal e sim dos governos estaduais e
municipais que, normalmente, não são responsabilizados pela péssima qualidade da nossa
educação. São gerações de governadores e prefeitos que não cuidaram devidamente da qualidade
da educação, cuja herança passada ainda atormenta os dias de hoje. Quero realçar que a melhoria
do IDH depende de muito empenho de todos, em diferentes níveis e competências nas suas
atribuições formais e informais. Da execução das políticas públicas e nas ações da sociedade pela
melhoria da qualidade de vida. Em se tratando de país, o Brasil é todos nós, porém com
responsabilidade diferenciada para os diferentes atores sociais. Àqueles que detêm mais recursos
precisam fazer a diferença.
Os governadores e prefeitos precisam fazer mais e serem mais cobrados pelas suas
responsabilidades com a baixa qualidade da educação básica e fundamental. As empresas
socialmente responsáveis devem fazer menos marketing e projetos individuais e se comprometer
mais com as transformações sociais e ambientais que ainda faltam no país, apoiando mais
projetos de consórcios de entidades, cooperativas ou numa rede de parceiros. Por fim, a mídia
tem um papel relevante ou determinante na melhoria do IDH que, alias é um indicador
insuficiente para mensurar a qualidade de vida. Mesmo assim ainda é um indicador aceito.
Ao mesmo tempo, a mídia precisa despertar e entrar no século XXI, o século da sustentabilidade –
agindo internamente e ajudando a sociedade a participar ativamente na definição dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável que a ONU está promovendo e que substituirão os ODM após
2015. A metodologia utilizada fixa objetivos, metas e indicadores para avaliar os progressos
obtidos. Esse seria um papel fundamental que a mídia poderia desempenhar para ajudar o Brasil a
diminuir o hiato entre a performance econômica e a social. Do mesmo modo, as organizações da
sociedade civil devem ampliar o monitoramento das políticas públicas, aumentar suas ações de
fiscalização e formular, com qualidade, propostas de soluções em seus municípios. A melhoria do
mundo começa em casa e nos arredores para ir ganhando outras dimensões.
Odilon Luís Faccio
Secretário Executivo Adjunto
Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade
otimismo e decepção na sociedade. Otimismo, pelo acelerado progresso em termos de redução da
pobreza no país. Decepção, porque a expectativa do Brasil e do governo federal era que o país
estivesse mais bem posicionado no ranking mundial.
A mídia trouxe em evidência os diferentes impactos do estudo, o PNUD procurou justificar a
metodologia utilizada e o governo federal explicitou sua insatisfação por meio da entrevista do
Ministro da Educação. Percebo que todos têm um pouco de razão. Sem entrar em outras
controvérsias, não é possível estabelecer uma comparação internacional sem uma base de dados
e a necessidade de um ano de referência comum aos países. O mesmo foi feito com os Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que foram lançados em 2000 para o cumprimento de
diversas metas até 2015, no caso, tendo com ano de referência para o alcance das metas os dados
existentes em 1990. No atual estudo do IDH o ano de referência foi 2009, portanto, no caso
brasileiro excluiu diversos avanços sociais, especialmente na educação. Enfim, esta questão da
base de dados e da metodologia é sempre polêmica, seja para os governos, seja para as empresas
e principalmente para as pessoas, porque ainda temos uma enorme dificuldade em aceitar
avaliação e atribuição de notas ou valores.
Quero abordar outro aspecto pouco ou nada explorado na mídia e entre os atores envolvidos. O
Brasil apareceu em 85º lugar entre 187 países, o que não agradou quase ninguém por diversos
motivos justos. Fica evidente que se somos a 8ª economia no mundo há um enorme abismo em
termos sociais. Portanto, acho normal que todas as pessoas sérias do país fiquem insatisfeitas, o
contrário seria traumático. A pergunta é: quem é o Brasil? Normalmente transferíamos a culpa
somente ao governo federal que, em grande medida tem suas responsabilidades pelo
desempenho do país. Mas será que é só dele a responsabilidade deste quadro dramático?
Um dos dados que mais pesou no estudo do IDH e ainda pesa em diversas outras comparações é
sobre a educação básica. Há quase 6 milhões de crianças de zero a seis anos que estão sem
creches, idade fundamental para o aprendizado. De quem é a responsabilidade principal da
educação básica e fundamental? Não é do governo federal e sim dos governos estaduais e
municipais que, normalmente, não são responsabilizados pela péssima qualidade da nossa
educação. São gerações de governadores e prefeitos que não cuidaram devidamente da qualidade
da educação, cuja herança passada ainda atormenta os dias de hoje. Quero realçar que a melhoria
do IDH depende de muito empenho de todos, em diferentes níveis e competências nas suas
atribuições formais e informais. Da execução das políticas públicas e nas ações da sociedade pela
melhoria da qualidade de vida. Em se tratando de país, o Brasil é todos nós, porém com
responsabilidade diferenciada para os diferentes atores sociais. Àqueles que detêm mais recursos
precisam fazer a diferença.
Os governadores e prefeitos precisam fazer mais e serem mais cobrados pelas suas
responsabilidades com a baixa qualidade da educação básica e fundamental. As empresas
socialmente responsáveis devem fazer menos marketing e projetos individuais e se comprometer
mais com as transformações sociais e ambientais que ainda faltam no país, apoiando mais
projetos de consórcios de entidades, cooperativas ou numa rede de parceiros. Por fim, a mídia
tem um papel relevante ou determinante na melhoria do IDH que, alias é um indicador
insuficiente para mensurar a qualidade de vida. Mesmo assim ainda é um indicador aceito.
Ao mesmo tempo, a mídia precisa despertar e entrar no século XXI, o século da sustentabilidade –
agindo internamente e ajudando a sociedade a participar ativamente na definição dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável que a ONU está promovendo e que substituirão os ODM após
2015. A metodologia utilizada fixa objetivos, metas e indicadores para avaliar os progressos
obtidos. Esse seria um papel fundamental que a mídia poderia desempenhar para ajudar o Brasil a
diminuir o hiato entre a performance econômica e a social. Do mesmo modo, as organizações da
sociedade civil devem ampliar o monitoramento das políticas públicas, aumentar suas ações de
fiscalização e formular, com qualidade, propostas de soluções em seus municípios. A melhoria do
mundo começa em casa e nos arredores para ir ganhando outras dimensões.
Odilon Luís Faccio
Secretário Executivo Adjunto
Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade
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